quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Tu e o Lenço


Vi uma mulher ao volante com um lenço na cabeça e um sorriso luminoso.


Pensei logo em ti, pelo teu sorriso e pela forma como colocavas o lenço da cabeça, que te dava sempre um ar cheio de graça.

Perguntava-te porque não usavas mais vezes um lenço a segurar-te os cabelos e te desculpavas-te, que normalmente não andavas com o cabelo meio deslavado e feio...

Percebi que não te achavas nada de especial com o lenço. 

Mas eu gostava de ti desta e de muitas maneiras...

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Ambições e Enganos


Pensava que tinha acontecido uma coisa e soube hoje que fora exactamente o contrário.


Depois da separação, ela andou um pouco à nora até aparecer um fulano vulgar, que a levou à certa. Pensava que ele devia ter dinheiro (e ele dizia que sim...), mas vim a descobrir que passou o tempo todo a viver à custa da mulher que fingia amar e a quem fez uma coisa do teatro, pediu-a em casamento, de joelhos, numa sessão pública (talvez para ser mais convincente), mas até os anéis de noivado foram pagos por ela (ele dizia que tinha as contas congeladas por o divórcio ainda estar a decorrer...).

Ela parecia-me esperta e pensei que estava a tentar ficar bem, até por continuar desempregada e saber que o subsídio não ia durar sempre...

Mas quando a história acabou, ficou com menos dinheiro que no seu início (até lhe pagou jantares e as flores que ele lhe oferecia), ou seja foi levada à certa.

Ele deve andar por aí, a fazer a corte a mais alguma mulher próxima do desespero, a quem oferece o ombro e mais qualquer coisa.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Estranhamente Antiga e Bonita


Apesar do seu ar moderno, Ana era estranhamente antiga.


Gostava das tarefas domésticas, lavar roupa, passar a ferro, lavar louça, limpar o pó...

Mas estava longe de ser submissa como as nossas mães. Ou de ficar fechada em casa.

E também tocava muito bem violão.

Sem saber porquê, lembrei-me dela.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Dar de Beber à Dor


Bebias mais do que eu, muito mais.


Como a maior parte dos homens, não percebi logo aquela necessidade de dar de beber à dor.

Distracções que às vezes se revelam fatais...

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

A Mulher da Mesa Número Sete


Sentas-te na mesma mesa, sempre de livro aberto, mas com o olhar distante, muito para lá da janela grande, com vista para o desfile diário da rua movimentada.


Nunca falamos, nem com um simples cumprimento de cortesia. Mas quando nos olhamos, paramos mais que um segundo, e tentamos descobrir algo mais de nós, dentro do olhar. Passados os dois segundos desistimos e voltamos para a nossa tarefa, de ler e de escrever.

Aposto que quando ela me vê escrever, pensa que estou a escrever sobre ela. E às vezes é, como agora...

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Fugir de Setembro


Setembro continua a ser um mês de perdas.


O Verão leva tantas coisas, até a ilusão do amor.

Sem fazer contas exaustivas, Setembro foi o princípio do fim de muitos amores. E nem todos foram apenas de Verão.

Há um querer começar de novo, um desapego a ontem. Há o pensar que amanhã é diferente, mesmo que nunca seja...

domingo, 31 de agosto de 2014

Os Bilhetes de Papel Desaparecidos


Descobri uma caixa cheia de bilhetinhos antigos, alguns ainda da adolescência.


Nesses tempos não havia o SMS e muito menos a Internet e os e-mails.

Hoje estragam-se menos árvores, mas a magia das palavras desaparece mais rápido. A caligrafia é sempre mais romântica que as palavras de qualquer máquina...

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Nem Todas Eram de Plástico


Muitas quase que tinham selo do embrulho.


Não eram todas. 

Mesmo as que eram de plástico, não eram marionetes. Era apenas uma profissão, uma questão de sobrevivência.

Olhava-as e sabia que sofriam muito mais que nós, porque a beleza feminina continua a ter muito que se lhe diga.

Pelas conversas que ia escutando, percebia que o que há mais por ai são homens que olham para mulheres como meros objectos de satisfação visual. Normalmente andam com os bolsos cheios de notas.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Partiste sem te Despedir


Normalmente nós homens somos mais de partir sem nos despedirmos. Somos mais cobardes, amamos com mais distanciamento.



Só soube que tinhas partido dois dias depois, quando percebi que o teu quarto estava com os estores corridos e ninguém atendia o telefone fixo.

Contaram-me depois que te viram na estação a apanhares o comboio...

sábado, 22 de março de 2014

Os Teus Pés


Os teus pés eram especiais, pelo menos para ti.


Eu não tinha nenhum fascínio especial por uma parte do teu corpo (tirando todas as partes beijáveis...).

Mas tu tinham mesmo orgulho na parte inferior do teu corpo, que maltratavas com sapatos com tacão quase de metro...

terça-feira, 11 de março de 2014

Março Quente


Lembro-me dos  nossos Marços quentes.



Lembro-me de irmos passear até ao mar e invariavelmente nos despirmos e darmos um mergulho sem qualquer peça de roupa.

Isso não acontecia por sermos adeptos de nudismo, mas apenas porque não traziamos calções de banho e tínhamos a praia toda para nós...

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Jogo de Sombras



Tu eras infinitamente mais bela nua dentro da penumbra do quarto, com a luz que aparecia da janela a fazer milagres.

Como eu gostava de te olhar e de te amar, a menos de média luz...