sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Uma Noite só Para Ouvir...


Era uma rapariga complicada, a pintora da Rua 13. 




Sempre que passo na rua que tem um nome de pessoa mas que sempre foi conhecida pela malta por este número da sorte e do azar, lembro-me dela.

Muito nervosa e arisca, só falava sobre livros e artes. Caminhava para os trinta e não se lhe conhecia um relacionamento, masculino ou feminino.

Um dia calhou beber mais que a conta e escolher-me como confidente.

Fiquei a saber quem era mãe (à época uma jornalista conhecida, que ela detestava, e foi por isso que aos 14 anos foi viver com o pai, publicitário e artista plástico quando lhe apetecia).

Não se arrepende nem um pouco da decisão. Detestava viver longe do pai e não aceitava que a mãe trouxesse tantos homens diferentes para dentro do seu quarto, mesmo que apenas conhecesse a voz da maioria. 

O pai não era um homem de afectos, mas era bom e inteligente. Ajudou-a a crescer, levava-a a museus e também visitavam ateliers de amigos pintores. Mas o melhor de tudo, era a pequena casa ser só dos dois. Enquanto viveram juntos, nunca levou para o seu quarto uma mulher.

Apeteceu-me dizer-lhe que somos diferentes e temos necessidades diferentes, mas aquela noite era só para ouvir...