terça-feira, 12 de abril de 2016

Cartas que se Perderam no Tempo


Encontrámos-nos numa superfície comercial, eu com um carrinho de plástico pequeno e tu com dois grandes acompanhada pelo resto da família, um gajo e dois rapazes.

Olhámos um para o outro e trocámos um sorriso. Não sabia ainda quem tu eras, apenas que me eras familiar. Já num outro corredor, consegui recuar mais de vinte anos e oferecer-te um nome e tudo.


Estava na peixaria quando me apareceste por detrás, desta vez sozinha e com vontade de falar, enquanto as funcionárias tiravam as tripas e as escamas ao peixe.

Trocámos meia dúzia de banalidades até me disseres que ainda tinhas as minhas cartas guardadas na casa dos teus pais. Eu sorri, incapaz de dizer alguma coisa sobre a tua correspondência, que se perdera no tempo. Não sei onde estarão. Talvez em alguma caixa de papelão no sótão dos meus pais, se entretanto não viajaram para algum ecoponto.

Depois apareceram os teus filhos e voltámos a ser as outras pessoas que nos tornámos...