Passei a noite pelo bar de perdição do meu tio Valentim.
Quando jovem o tio ficou enamorado pela rapariga que estava do lado de lá do balcão e cirandava de mesa e mesa, infelizmente casada com o dono, com no minimo vinte anos e cinquenta quilos de avanço.
Continuou a entrar naquela porta, a beber um bagaço que pedia meças ao scotche e a olhar a sua deusa, até começar a ser observado pelo dono da casa e da moçoila.
Um dia foi convidado a deixar de passar por alí, para continuar com os ossos inteiros.
O tio voltou no dia seguinte, no outro e no outro...
Nunca foi incomodado mas a rapariga foi proibida de sair do lado de dentro do balcão. E um dia desapareceu mesmo.
O tio contou-me essa história, trinta e muitos anos depois, entre cigarros, bagaços e histórias de Lisboa.
Nunca mais viu a boneca fatal, nunca mais a esqueceu.
O tio ainda está por cá, já não tem a pinta de "boggie", que metia respeito aos homens e admiração às mulheres, não fosse um homem dos jornais e da noite.
Fiquei ali, a fumar e a beber um bagaço, e depois outro, como se estivesse com o pai e com o tio, a ouvir histórias do bom tempo, quando existiam coristas que gostavam de se enrolar na madrugada.
Um comentário:
Ainda se vende bagaço?
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